“Agora lascou!” Foi o que pensou uma grande amiga, bastante experiente em sua profissão e com pós-doutorado internacional. Ela havia enfrentado uma seleção bastante acirrada para lecionar na Universidade Federal de Pernambuco, e foi aprovada, restando apenas a última etapa: a famigerada entrevista psicológica!
O mais que achei interessante na situação é que essa amiga, uma excelente pesquisadora e com grande bagagem cultural, estava aflita por uma etapa do processo de seleção que, na realidade, não deveria deixar as pessoas temerosas. E esse mesmo sentimento que ela teve, nós, psicólogos, observamos em nossos colegas e familiares. Conhece algum psicólogo(a) ou estudante de psicologia? Faça uma experiência: pergunte a ele(a) quantas vezes alguém surgiu perguntando como deveria agir para ‘passar’ no teste psicológico de uma seleção de emprego ou na avaliação para a carteira nacional de habilitação. Certamente vão responder que bastante gente veio com essa dúvida.
Essas avaliações não são para saber, como muita gente pensa, se você está "louco" (inclusive, para nós, esse termo é pejorativo)! Na realidade, é apenas mais uma etapa para recolher dados sobre sua personalidade, comportamentos e capacidades cognitivas (como memória e atenção). Não costumo ver muitos profissionais da área falando sobre isso abertamente, e talvez por isso continue sendo algo tão misterioso para a maioria das pessoas. Abaixo, trarei de forma resumida algumas dicas que passei para tranquilizar um pouco a minha amiga. Já posso adiantar que ela fez uma excelente entrevista e hoje é uma professora dedicada!
Primeiramente, saiba que não existe uma forma "correta" de realizar essa entrevista. O motivo já foi exposto acima: serão recolhidas informações sobre você! Então, não é uma receita de bolo que pode ser aplicada a cada pessoa. Nessa modalidade de entrevista, é bem comum a aplicação de testes psicológicos. Nossa ética profissional nos proíbe de passar quaisquer informações que beneficiem/influenciem o avaliado. Mas então, quais dicas restam?
Há, sim, dicas valiosas para você realizar uma boa avaliação psicológica em qualquer tipo seleção que participar. O foco deste artigo não é necessariamente em entrevistas de seleção de emprego, porém, todas as dicas abaixo são perfeitamente aplicáveis a essa situação. Dividirei elas em duas etapas: as entrevistas e os testes psicológicos.
Mesmo que sua entrevista seja online, o cuidado deve ser o mesmo!
Entrevistas
É nesta etapa que o entrevistador conhecerá você. E não há ninguém melhor que você para falar sobre isso, não é verdade? Resumidamente, o que será avaliado é: sua trajetória de vida pessoal/profissional; se você possui as características necessárias para ser selecionado/aprovado; se o seu perfil se adapta à atividade ou às pessoas que compõem a equipe com quem você trabalharia. Digamos que ela corresponde a 70% do processo seletivo/avaliação. Portanto:
1- Se prepare para a entrevista;
Vista uma roupa adequada para a ocasião e cuide da sua aparência. Este é provavelmente o primeiro contato que a/o psicóloga(o) terá com você, então, mostre o quanto você considera importante aquela ocasião.
2 - Reflita sobre suas características pessoais;
Poucos erros em uma entrevista são piores que esse. Reflita um pouco sobre si mesmo, como você se descreveria para alguém, seus pontos fortes e os que precisa melhorar. Muitos candidatos não consideram fazer isso antes da entrevista. Porém, como o avaliador vai conhecê-lo se nem você mesmo se conhece? Além de demonstrar autoconhecimento, suas respostas vão abrir um leque de novas perguntas ao entrevistador e vão despertar o interesse dele em você.
3 – Saiba responder quais são seus objetivos naquela vaga a qual está se candidatando;
Por que esta vaga é importante para mim? Qual a diferença que ela fará na minha vida? O que ela poderá proporcionar para meu desenvolvimento pessoal e profissional? São boas perguntas que você deve tentar responder para si mesmo no momento em que estiver se candidatando para alguma vaga.
4 – Seja sincero em suas respostas;
Acredite, um bom entrevistador saberá se você está tentando passar uma imagem de algo que não é.
5 – Não fale sobre o que não sabe;
Tentar fingir saber o que não domina poderá ter consequências sérias no futuro. Além de moralmente incorreto, se você for selecionado para a vaga e precisar por suas ‘habilidades’ à prova, poderá manchar sua imagem profissional. Ao invés disso, passe segurança naquilo que você sabe fazer.
6 – Busque trazer suas experiências de vida e/ou profissionais;
É muito mais simples para o entrevistador conhecer o candidato quando ele complementa seu discurso com suas experiências. Este é um dos elementos que vão auxiliar na identificação de competências técnicas e comportamentais. Traga experiências do seu dia-a-dia; diga como você realiza suas tarefas; quais ferramentas você prefere e como as utiliza; a maneira que você costuma interagir com as pessoas a sua volta; são inúmeras as possibilidades que você pode abrir.
7 – Não seja muito econômico nas palavras, o entrevistador precisa conhecer você;
Caso você seja uma pessoa introspectiva ou tímida, tente vencer essa barreira. Em uma entrevista, o entrevistado deve falar mais que o entrevistador.
8 – Não se sabote falando apenas características negativas;
“Então eu preciso mentir?” Foi o que uma candidata me disse no feedback de um processo seletivo. Esta jovem pouco falou em sua entrevista, mas quase tudo que trouxe eram características pessoais negativas. Por mais que eu tentasse saber quais suas melhores características, sem perceber ela tentava me mostrar o seu pior lado. É claro que você não deve mentir. Mas enalteça o que há de positivo em você e como poderá contribuir para aquela vaga.
9 – Pense em que você se destaca e como isso pode agregar ao local onde você vai;
Se, por exemplo, uma das atividades da vaga a qual você está se candidatando é gerenciar a execução processos internos, reflita quais características você possui que podem contribuir para ela: "Planejo bem meus movimentos antes de agir? Mantenho um alto nível de organização para minimizar erros? Tenho uma boa visão sistêmica dos processos e como suas etapas impactam nas outras?" Reflita bastante sobre aquilo que a vaga exige e como você pode contribuir. E novamente, se possível, ilustre com exemplos.
Mas lembre: responda naturalmente. Não saia decorando um discurso, senão você soará artificial. Basta um bom exercício de reflexão antes da entrevista para você obter um resultado diferenciado.
No próximo texto continuaremos falando um pouco dos testes psicológicos.
Obrigado pela leitura!
A.
Luiz Felipe Spencer
Analista de RH - Baobá
Perfeito! Obrigada pelas dicas!!!!
Ótimo artigo! Ajudou bastante. Parabéns!